Instituto Escolhas sugere programa prioritário de renováveis

Matéria na íntegra:

Para enfrentar a crise hídrica, o governo poderia instituir um Programa Prioritário de Energias Renováveis (PPER), nos moldes de plano semelhante previsto pela Medida Provisória 1.055/2021 para a termeletricidade, propõe o Instituto Escolhas. Na avaliação da entidade, o momento atual seria ideal para avançar na expansão da oferta de energia solar e eólica, além da biomassa, que possui prazos de implantação mais curtos e custos menores do que usinas a gás natural.

Larissa Rodrigues, gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas, ressaltou que a indústria renovável encontra-se atualmente com capacidade ociosa no país e que os preços das fontes, especialmente oriundas de vento e sol, possuem preços de equipamentos mais baixos do que no passado, o que ajudaria a viabilizar novos empreendimentos num curto espaço de tempo.

A entidade elaborou um texto de discussão sobre a crise hídrica, no qual aponta que a atual situação não é apenas fruto de uma escassez de chuvas, mas sim da ausência da inclusão das mudanças climáticas no planejamento da operação do sistema, bem como na expansão da oferta.

“A crise não é uma surpresa, tivemos crises em 2001, 2014 e em 2021”, disse Larissa ao EnergiaHoje. Ela lembra que as projeções de crescimento do consumo de energia este ano comparam com o ano passado, cuja base era mais baixa por causa dos efeitos das medidas restritivas contra a pandemia – na prática, o consumo é praticamente equivalente aos níveis anteriores a 2020.

No estudo, o instituto destaca que a bacia do Rio Paraná registra chuvas abaixo da média há 22 anos. Assim, “colocar a culpa em São Pedro” é desconsiderar uma informação disponível que poderia ter sido utilizada para evitar racionamentos.

A MP do Racionamento, como vem sendo chamada, e que já recebeu cerca de 250 emendas no Congresso Nacional, abre espaço para a criação de um programa prioritário de termeletricidade (PPT), nos moldes do que foi estabelecido antes do racionamento de energia, em 2001.
No entanto, a especialista avalia que o uso intensivo de térmicas e a introdução de novas usinas cria um círculo vicioso, no qual o maior uso de térmicas no sistema causa emissão de mais gases de efeito estufa, que reduz a quantidade de chuvas e, consequentemente, eleva as chances de mais escassez e crise energética.

Ao não se observar os atributos das fontes, segundo ela, cria-se uma situação na qual as termelétricas funcionam como backup. Acionadas quando os reservatórios esvaziam – no momento, estão despachando fora da ordem de mérito – elas operam a pleno para preservar os reservatórios das hidrelétricas, com o consequente aumento das emissões.
Para o Escolhas, um programa específico para a geração renovável poderia reduzir a capacidade ociosa da indústria e traria uma sinalização para o segmento. “Se fosse feito, um PPER seria um sinal para indústrias, para aumento da capacidade.

O Instituto Escolhas não vê as térmicas a gás natural como combustíveis da transição energética e também vê a proposta de implementação de 8 GW, a maior parte em regiões sem infraestrutura de transporte, como uma forma de elevar custos para os consumidores, ainda desconhecidos.

Com a situação de escassez, ao desconsiderar que, em tempos de transição energética, os combustíveis fósseis, incluindo
o gás natural, estão cada vez mais na berlinda e que a oferta depende de uma infraestrutura inexistente, cria uma situação de ônus ainda maior para os consumidores, considerando que essas usinas serão contratadas como energia de reserva.

O estudo ressaltou que uma análise do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou custos da ordem de R$ 45 bilhões para os consumidores, causados pelo racionamento de 2001. “Quanto se pode custar agora?”, questiona Larissa.

Direcionar os esforços para a implementação de renováveis seria uma vantagem por causa da descentralização que as fontes podem proporcionar. Eólicas têm potencial elevado no Nordeste e no Sul do país; solar no Nordeste e em regiões de Minas Gerais; e a biomassa tem força no Sudeste – inclusive com o retrofit de usinas mais antigas, próximas aos principais centros de carga.

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