Energias renováveis. De luz e vento em popa

Desde janeiro de 2017, a energia consumida em todas as sedes da organização educacional Farias Brito – em Fortaleza, Eusébio e Sobral – provém de energia eólica produzida a partir da força dos ventos na Prainha, em Aquiraz.

Conforme o diretor-presidente da organização educacional, Tales de Sá Cavalcante, a priori o recurso permitirá uma “pequena economia” na conta de energia, mas ele garante que o foco é outro. “Alugamos parte de um parque eólico, mas nossa preocupação maior não é financeira, é ecológica. A economia pode vir a longo prazo, mas queríamos mesmo era dar aos nossos alunos um exemplo educacional prático”.

O aluguel do parque permite que a energia renovável seja direcionada para a rede da Enel, que a transforma em créditos em quilowatt-hora (kWh) na conta de luz. Anualmente, será gerada uma média de 4.800.000 kWh, que equivale a menos 3.347 toneladas de CO2 na atmosfera. “Gera mais crédito quando tem mais vento. Em algumas situações pode ser que a gente pague até um pouco mais caro”, emenda Guilherme Ellery, diretor administrativo e de desenvolvimento da Organização. Ele acrescenta que, a partir da análise do consumo médio de cada sede, foi possível fechar um valor fixo mensal no contrato de locação. Porém, não revela números. Com o monitoramento, o objetivo é tornar a distribuição “mais otimizada possível. A gente espera ter cada vez mais know-how pra tentar maximizar esse ganho”.

De olho na sustentabilidade ambiental e econômica, amanhã a marca de moda feminina Via Direta se prepara para acionar 246 placas solares instaladas no estacionamento e na cobertura de sua sede, no bairro Aldeota. Com vida útil de 25 anos, a tecnologia desenvolvida pela fabricante cearense Sunlight demandou mais de R$ 670 mil. Em contrapartida, vai gerar a longo prazo uma economia anual de cerca de R$ 99.850. Conforme o gestor de projetos da marca, Neto Rabelo, “o investimento deve retornar em aproximadamente cinco anos”. Ao todo, são 56 placas no estacionamento e 190 no prédio, que devem abastecer a rede de energia da sede, bem como a loja no bairro Montese.

Para prosperar

Não apenas o vento e a luz do sol produzem energia renovável. A partir de um projeto iniciado em 2016, a Unimed Fortaleza conseguiu reduzir em cerca de 50% os custos com energia elétrica no maior hospital de seu sistema: o Hospital Regional da Unimed (HRU). A primeira medida foi reduzir o fornecimento exclusivo de energia da Enel (mercado cativo), buscando também migrar para o mercado livre, onde outras empresas fornecem energia mais barata e limpa.

A ação foi aliada à instalação de um conversor no HRU, que transforma a energia recebida das operadoras de 220 volts para 12 volts. Após ajuste da voltagem, um conversor alimenta centelhas de LED’s, gerando impacto positivo no consumo. O projeto visa atender áreas de baixa, média e alta criticidade, como halls, corredores, apartamentos, salas de prescrições, áreas externas e outras assistenciais.

Desde 2014, o Grupo M. Dias Branco realiza um relatório de sustentabilidade. Em 2015, obteve entre os principais resultados a migração para o mercado livre de energia em três unidades, resultando em uma economia de 39,25%. Já ações de eficiência energética renderam economia de mais de R$ 1 milhão no período. Consultora e gestora em sustentabilidade, Christie Bechara recomenda que as empresas elaborem relatórios do tipo, pois é por meio deles que é possível “enxergar o que alavancaram em relação aos ganhos com o tema da sustentabilidade e retroalimentar os investimentos”.

Bate-pronto

O POVO – Como a sustentabilidade deve ser encarada dentro das empresas?

Christie Bechara – A sustentabilidade é baseada num tripé econômico, social e ambiental. É preciso investir hoje para se conseguir um resultado efetivo a médio e longo prazo porque requer um novo modelo de negócio que vai envolver gestão, colaboradores e demais partes interessadas. Quando a sustentabilidade vem como desejo do empresário, independente do público que visa atingir, passa como parte da essência e consequentemente isso é visto e vem como resposta do público. Para manter a sustentabilidade do negócio você deve trabalhar para verdadeiramente aplicar conceitos e propósitos no dia a dia e não só para atingir uma propaganda ou ganhar um prêmio.

OP – Como os empresários veem a sustentabilidade no Ceará?

Christie Bechara – Ainda temos um cenário de aposta. Algumas empresas cearenses estão buscando resultados não tão profundamente como um modelo de negócio promissor e sim como uma tendência. O Ceará não está com pioneirismo, mas com os pés nos freios, do tipo “deixa eu ver o que o outro faz”. Se der resultado ou se o público cobrar, aí sim tomam um posicionamento. Estão esperando alguém começar, mas em um modelo de negócio é preciso ter essa vontade. A sustentabilidade não dá resposta rápida.

OP – Por que contratar um profissional de sustentabilidade?

Christie Bechara -As empresas cearenses precisam de um treinamento junto a gestores pra que haja uma compreensão desses resultados e se consiga mensurar esse desempenho. Quem investe numa carreira dessas está preparado para fazer o desempenho da sua empresa dar um salto e neutralizar impactos negativos. As grandes empresas que atuam com sustentabilidade já discutem questões como a migração de povos, veja o nível de maturidade que atingiram. E a gente ainda está pagando pra ver até que ponto vale ter um plano sustentável de negócio. Estamos em atraso.

Christie Bechara, consultora e gestora em sustentabilidade

Multimídia

Veja vídeo sobre a GNR Fortaleza em: https://bit.ly/2kbl2yy

SAIBA MAIS

O Brasil é o 9º país entre os dez com mais capacidade instalada total de energia eólica no mundo. O ranking foi divulgado no último dia 10 pela Global World Energy Council (GWEC), no “Global Wind Statistics 2016”, documento anual com dados mundiais de energia eólica. Com 10,74 gigawatts (GW), o País ultrapassa a Itália, que está com 9,2 GW;

A organização global sem fins lucrativos CDP divulgou este mês a 3ª edição do programa CDP Supply Chain. Um dos dados do relatório aponta que, em 2016, 60% das empresas brasileiras identificaram riscos relacionados ao clima em sua atuação, mas apenas 19% possuem abordagem para conter os riscos;

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